24.12.10

"OS BÍBLIAS PIRATAS"

Por Carlos Gilberto Triel

Era uma vez um bíblia pirata, que vivia a dizer para os fragilizados que Deus quer que todos sejam prósperos e ricos. E, aí está o pulo do gato, digo, o roubo do rato; pois as mentes anestesiadas não só consentiam, como gostavam de ouvir que Deus não é um Deus de varejo.

E que esse Deus de poder havia operado riquezas no atacado, e com ardilosa astucia disse que ele mesmo havia pulado fora da miséria absoluta, e sem lenço para o pudor e, sem documento para o imposto de renda, enumerava as fortunas que adquirira graças aos milagres do Deus da fartura.

Ora, quando se ouvia o bíblia pirata, de retórica inflamada a falar de Deus como se Deus fosse um investimento na bolsa, as pessoas da farinha pouca, meu pirão primeiro, se jubilavam e falavam uma com as outras: Vamos à casa de Deus, porque Deus quer nos fazer homens ricos e compradores.

E que Deus tinha um plano de muita gastança para cada abençoado, e que as consciências se despojassem dos escrúpulos, porque o Deus de vitórias não gostava de perdedores. Do jovem ao ancião, todos enlouqueceram! Mas, não sem antes cristianizar o aborto para se evitar uma vida de sofrimento.

E a casa de Deus encheu-se de tanta gente que foi preciso construir mais casas, cada uma maior do que a outra. E o sujeito ficou famoso; o seu prestígio alcançou o Congresso e, fez de Deus o seu laranja e, comprou e ganhou concessões de Rádio e TV para falar da invenção que pisava na cabeça dos seus inimigos.


E então políticos sem cor religiosa e no pior estágio da degradação moral aderiram ao vigarista e, parte dessa fauna percebendo a semelhança das espécies passou a professar a exploração da fé como sórdida sobrevivência nas urnas. E o modelo seguiu gerando filhotes tristes, esquizofrênicos e suicidas.

Certo dia, perguntaram ao calhorda que falava do Deus das maravilhas, onde entrava Jesus nessa prosperidade toda.

O bíblia pirata não titubeou começou a dizer que na primeira etapa do jogo entre o céu e o inferno, Jesus fez parte dos planos de Deus, porque naqueles tempos obscuros ninguém se preocupava com o consumo, então era preciso falar de amor para sacramentar entre as pessoas a importância de Deus.

Mas que agora não, quem amou, amou; quem não amou, não ama mais. Agora Deus quer que usem e abusem dos bens e dos bondosos. Os seus abençoados herdarão e explorarão a terra até o último grão de bico, mas, quando lhe foi perguntado quem arará os campos, o bíblia pirata, respondeu: Adivinhem?

E de braços erguidos e com olhos marejados falou forte, torto e errado: Deus trouxe meus pastores, bispos e cardeais para completar o trabalho de Jesus, e pregar a vitória sobre os inimigos; pregar um mundo de riqueza, pregar a obediência ampla, geral e irrestrita; e pregar, e pregar...

Foi quando um dos seus pulhas chegou à brilhante conclusão de que outros nomes de comprovada obediência são mais lucrativos à Igreja Dos Bíblias Piratas do que o próprio Jesus. Mas é claro, o Amor e a Caridade do Cristo são um pé no saco na relação custo benefício. E daí, talvez seja necessário pregá-lo de novo na cruz.

Feliz Natal.

Carlos Gilberto Triel é jornalista e apresenta a Oração da Ave Maria, de 2ª a 6 ª 17:50 Rádio Tropical 830 AM na web www.tropical830am.com.br

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