6.4.11

“A VIDA QUE NÃO FOI”

Por Carlos Gilberto Triel

O presidente do Senado José Sarney apresentou ontem voto de pesar pela morte do ex-governador Jackson Lago e aproveitou para dizer que a morte impõe a condição de que reconheçamos apenas as coisas boas do sujeito.

Não é o caso do prefeito de fato de Nova Iguaçu que em algum lugar do futuro não ouvirá esse consolo nem que liberte todos os pássaros tristes e engaiolados. Logo ele, de uma geração que conheceu que a luta estava na frase de Manuel Bandeira: A vida inteira que poderia ter sido e que não foi.

Pois foi lá no passado quando se descobriu doente, acamado que se desdobraria sua recuperação. De repente, recebe uma ajuda do alem e tira o pé da cova. Mal agradecido, em vez de pular de alegria e sair a ajudar outros doentes preferiu continuar na política rasteira do é dando que se recebe.

Porque não se compreende é alguém que esteve diante de Deus e do Diabo, nas vezes que o sono doentio abraçava-lhe a alma, deixe agora a vida de pessoas nas mãos de vereadores presunçosos ou de um secretário de saúde assustado que vive a repetir: “não me comprometa"

Depois que religiosos na arte de tapeação construíram fortunas em nome do Senhor, a bíblia passou a ser codificada como manual de instruções. E aí o que não falta é ex-defunto se achar o próprio salmista a exaltar que mil cairão à sua esquerda e tantos a sua direita, sem se perguntar, e daí?

A história daqui será contada como a de uma geração de palermas que aplaudiu e orou junto com os piores canalhas santificados pelos idiotas úteis. O senso da realidade deu lugar à esperteza herética que vive a pregar códigos de condutas que mais cedo ou mais tarde será caso de policia.

Nova Iguaçu teria por obrigação moral em ser referência nacional em saúde pública em vista da ressurreição desse senhor. A forma fria e burocrática transparece que Sua Excelência pensa que o mundo começou a partir do seu nascimento e o povo e a lei existem para servi-lo.

Ora, se o prefeito de fato fosse mais um desses que andam a propagar uma cristandade de abençoado pra lá e abençoado pra cá, seria razoavelmente ignorado por esse escriba aqui. Mas, ao se ajoelhar fervoroso na festa de aniversário da cidade se mostrou um caso mais sério.

A esperança de algo mais do que um funcionário público insensível e acomodado. Que venham todos os conflitos políticos, financeiros e pessoais, mas faça. Ponha na saúde, alguém com coragem para se comprometer até o pescoço sem medo de dizer: eu quero assim, porque é assim que deve ser.

Carlos Gilberto Triel é jornalista e apresenta de segunda a sexta-feira 8:40hs o quadro Se É Sucesso Eu Toco dentro do programa do Hugo Alves. E a oração da Ave Maria 17:55hs Rádio Tropical 830AM www.tropical830am.com.br

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