25.4.11

"ILUMINADOS DAS CAUSAS PRÓPRIAS"

Por Carlos Gilberto Triel

Em 1979, depois de uma pelada no Aterro do Flamengo, chamei o compadre Hermenegildo para encarar no Bob’s, um cachorro quente traduzido em Hot-Dog. Ele relutou dizendo que achava o local metido a besta, que não se prestaria a consumir nada do imperialismo americano.

Comida não tem pátria, imbecil, come-se! Ele replicou que estava errado, o dinheiro deveria ser gasto no comércio local. Onde já se viu simples sanduíches nominados em língua estrangeira para seduzir trouxa!

Falava pelos cotovelos, de visão estereotipada sobre o que ouvira dizer, parecia que nasceu pronto e habilitado para consertar o mundo. Sua certeza sobre tudo e todos antevia as verdades inabaláveis do que viria a se revelar no futuro: salvador de almas, ministro... De Deus.

Não lhe dei atenção e pedi um Hambúrguer e uma laranjada. A contragosto pediu igual refresco acompanhado de um Milk Shake, o qual sua casmurrice o levou a deduzir que esse estranho nome pudesse ser um pão com alguma coisa dentro.

Segurei-me para não rir. Aguardei à hora da decepção e, a surpresa veio quando o vendedor trouxe junto com a laranjada, em vez do sanduíche, um sorvete cremoso batido em liquidificador.

Minha gargalhada o enfureceu tanto que atirou o Milk Shake no painel luminoso criando tumulto com os funcionários e clientes da loja. Esbravejou que errar não o fazia um idiota, e que eu, sim, um babaca por me prestar a consumir porcaria de caipira forasteiro.

O tempo passou, e hoje, apostar na dissonância cognitiva é regra geral e, nunca antes neste país políticos e religiosos se aproveitaram assim da alienação do povo. E Nova Iguaçu expia seu erro ao eleger nomes em vez de pessoas e a elite se presta a reverenciar estes arremedos de gestão, campeões em vexame.

E o vexame só não envergonha seus atores. Na Câmara se fala num interesse popular abstrato, mascarando um despudor de interesses pessoais. Na saúde, o que causa espécie não é a sanha insana desses novos ricos, e sim a estupidez genuína dos que estiveram com um pé na cova e, se esqueceram.

Associações de classes, moradores, conselhos municipais, prestadores de serviços e fornecedores superpõem uns aos outros em seus propósitos. As intenções são boas, mas não reagem nunca numa unidade de protesto porque a índole é cada um por si e pelos seus padrinhos políticos.

Está certo que as vozes do comércio e da indústria não se queixam e estão sempre à espreita de um ou outro cargo pela porta dos fundos, oligarcas por vocação não estão nem aí se a gestão pífia do staff Gama submergiu a cidade ao lixo e as diversas categorias de ratos.

Quem sabe se anjos fiscais sanitários não despertem de sua conveniente clausura e diante de tanta iniqüidade e heresia se juntem aos abençoados que oram nas praças, nos campos de futebol e onde mais o povo possa vê-los, para traduzir alguns sanduíches na linguagem que todos entendem...

Carlos Gilberto Triel é jornalista. E apresenta 8:45 da manhã na www.tropical830am.com.br “Se é Sucesso eu Toco” no programa do Hugo Alves. E a oração da Ave Maria de 2ª a 6ª feira 17:55hs Rádio Tropical 830AM.