16.1.08

Resgatando a história

Já que a secretaria de Cultura de Nova Iguaçu é apenas de enfeite, vou fazer resgates históricos que envolve nossa história política, principalmente. Enquanto isso - eles estão reunidos desde 15h na secretaria de Cultura, inclusive com a presença de vereadores -, vamos fazendo o papel que eles deveriam fazer.
O artigo que colocarei abaixo foi escrito em 1976, assinado pela Cúria de Nova Iguaçu e publicado no jornal Correio da Lavoura de 23 de outubro daquele ano. Para quem não sabe - a secretaria de Cultura ajuda muito nesse ponto -, neste mesmo ano, em 22 de setembro, o Bispo Dom Adriano Hypólito foi sequestrado, violentamente espancado, abandonado nú e pintado de vermelho. Ele era chamado de "Bispo Comunista" pelas forças da repressão. Três anos depois uma bomba explodiu na Diocese de Nova Iguaçu. Em 1976, ano em que foi escrito o artigo, o Pe. João Bosco Penido Burnier foi assassinado por um tiro de um soldado, em Mato Grosso. Vejamos o que publicou a Cúria Diocesana:

Cúria Diocesana emite comunicado sobre o assassinato do Pe. Burnier

A Cúria Diocesana, interpretanto os sentimentos do povo cristão de Nova Iguaçu, acaba de enviar telegramas de solidariedade à família e aos aos irmãos da Prelazia de Diamantino, onde o Pe João Bosco Penido Burnier foi assassinado a bala por um soldado da Polícia Militar.
Não refeita do atentado escandaloso e ainda não desvendado contra o nosso Bispo Diocesano Dom Adriano Hypólito, a consciência cristã do povo brasileiro é novamente afrontada por mais um crime monstruoso e sem sentido.
Pe. João Bosco, da ordem jesuíta, decidiu-se pelos pobres e pequenos e trabalhava entre os índios Bacairi, no Mato Grosso. No último dia 13, Pe João Bosco acompanhou o Sr. Bispo Diocesano Dom Pedro até a delegacia policial de Ribeirão Bonito; o bispo ia reclamar e protestar contra os maus tratos e torturas que os soldados estavam infligindo a duas mulheres do povo. A reclamação e o protesto dos dois açularam ainda mais a má consciência e fúria assassina dos torturadores, resultando daí o assassinato do padre por um soldado do destacamento.
A repetição crescente de crimes e ameaças contra aqueles que lutam na defesa dos direitos humanos, especiamente do direito daqueles que não possuem condições de buscá-los, mostra que a morte do Pe. João Bosco não é fato eventual e isolado: tem claramente algo a ver com a intolerância para com a Igreja que se decediu a ser a cosnciência moral do mundo injusto, consciência que aponta para o esmagamento dos pequenos e fracos como fonte da desorganização da justiça e fraternidade e como fonte dos maus sentimentos que estão tornando esse nosso mundo tão violento e tão ruim.
Nesse mundo assim, onde a tônica dominante e propagada é correr atrás das próprias vantagens imediatas e conseguir o tal progresso mesmo à custa dos mais fracos. Pe. Penido Burnier pelos pequenos, pelos índios e pelos posseiros. Mesmo para quem não o conheceu pessoalmente o Pe. Penido, seu assassinato, perpetrado justamente pelas forças que têm por missão garantir a paz, a ordem e os direitos do povo, repugna a consciência moral de qualquer ser humano, além de ser uma agressão escandalosa contra a fé religiosa do povo. Este fato, semelhante ao assassinato do missionário Pe. Lukenbein e ao sequestro e espacamento de Dom Adriano, retrata um clima de violência em que vivemos, clima que atinge os pequenos e fracos, na pessoa daqueles que se indetificam com os sofrimentos do povo.
Em comunhão com o Sr. Bispo, com os sacerdotes e com o povo cristão da Prelazia de Diamantino, nós cristãos da Diocese de Nova Iguaçu, condenamos este clima de violência e arbítrio, e exigimos em nome da consciência do povo brasileiro, que tais crimes não fiquem impunes.
Como tão bem expressou o cartaz da missa de Pe. João Bosco, a Igreja de Diamantino recebeu um presente: "Deus lhe deu um mártir". O Pe. João Bosco não morreu, apenas passou para a vida eterna, donde já brilha imortal como exemplo de coerência com a justiça do Reino de Deus. Seu exemplo e sua presença junto a Deus nos ajudem a, em nossa Diocesse de Nova Iguaçu, sermos também coerentes com o Evangelho, a não recuar ante a perseguição, a não termos a morte corporal e passageira, a clamar como o apóstolos de Cristo a justiça fraterna do Reino de Deus.
Nova Iguaçu, 15 de outubro de 1976.
Cúria Diocesana de Nova Iguaçu.

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