10.1.08

É possível confiar?

O artigo abaixo foi escrito para o jornal Tribuna da Região, para edição do dia 16.
Almeida dos Santos
É muito comum que no início de cada ano as pessoas parem para fazer reflexões e resgatarem na memória os fatos que aconteceram no ano anterior. Porém, neste caso, farei uma retrospectiva mais ampla, rememorando os três últimos anos do governo Lindberg Farias, sobretudo na relação política que ele manteve ao longo desses anos. Isso se justifica por ser 2008 o último do governo Lindberg, nessa gestão.
Antes mesmo de iniciar o seu governo, e, para ser preciso, em dezembro de 2004, Lindberg Farias dava sinais de que as suas relações com as forças políticas da cidade de Nova Iguaçu não seriam tão harmoniosas. Na lista de secretários anunciados por ele, no auditório do Senai, no Bairro da Luz, nas entrelinhas já se podia ler que muitas histórias de desarmonias aconteceriam durante a sua gestão. Ewerson Cláudio, que era o seu assessor mais próximo em Nova Iguaçu, foi “rifado”, e depois de passar um tempo no governo resolveu abandonar o barco e o PT. Filiou-se ao PSOL, onde hoje se encontra.
Maurílio Manteiga (PSDB), que foi anunciado titular da Articulação Política, não conseguiu tomar qualquer iniciativa no início do governo. Logo ele que chegou a desistir da candidatura a vereador para manter o PSDB na chapa com o PT. Nos primeiros meses da administração percebeu a traição e pediu exoneração, fato que aconteceu meses depois. Hoje ele se encontra no governo, mas isso não quer dizer que a sua confiança em Lindberg seja uma das maiores, ao contrário.
Mais pessoas que se dedicaram à campanha de Lindberg Farias, em 2004, também foram se desgastando. Fernando Gonçalves (PTB), que foi abandonado por Lindberg Farias em plena campanha para deputado federal em 2006. José Távora (PMDB) foi outro que ficou no abandono, assim como os ex-vereadores Manoelino (PDT), Carlão Chambarelli (antes PTB hoje PV), Alexandre Novaes (antes PDT agora PSDB), Djair Cabral (antes PDT e hoje sem partido), e muitos.
Na lista das pessoas ressentidas com Lindberg Farias, até mesmo o deputado Walney Rocha (PAN) tem lá a sua razão. Assim que começou o segundo turno em 2004, tanto Fernando Gonçalves quanto Walney fizeram questão de declarar apoio ao outrora opositor.
Um grupo formado pelos então vereadores Fernando Cid (PCdoB), Carlos Ferreira (PT), Rogério Lisboa (DEM), Maurílio Manteiga (PSDB) e Tuninho da Padaria (antes PSB agora DEM), foi o responsável pela pavimentação da campanha e chegada de Lindberg ao Poder. Hoje esse grupo se desfez, e Lindberg, usando a máxima de Maquiavel, “conseguiu dividir para reinar”.
Mas, a história mais recente da desarmonia na relação política aconteceu poucos meses antes da virada para 2008. Tudo estava certo: a composição das chapas discutidas, mas, repentinamente, talvez em um momento de surto, Lindberg Farias mostrou que podia ir além na sua capacidade de destruir relações. De forma sorrateira, procurou Sérgio Cabral (PMDB), pedindo ao governador uma aliança com o seu maior rival e correligionário de Cabral, o deputado federal Nelson Bornier. Mostrou, nesta movimentação, que seu pragmatismo é mais forte que as relações pessoais e políticas e do que o seu projeto político e de grupo. Fez como fizera com os radicais do PT que debandaram e criaram o PSOL. Perguntem ao Babá, à Heloísa Helena e a Luciana Genro o que pensam do ex-companheiro Lindberg Farias. Só não se assustem com a resposta.
Rogério Lisboa, cotado para ser o vice, sentiu o "frio do punhal" em suas costas e resolveu lançar a sua candidatura própria, abandonando um projeto político que acabou virando uma ameaça concreta. E, hoje, na própria base do governo, não há mais dúvidas sobre a resposta da pergunta que teima em não sair da mente: é possível confiar?

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