28.6.11

“VALCIR ALMEIDA”




Por Carlos Gilberto Triel

Lembro-me de um conto de Nelson Rodrigues em que a certa altura dum velório e, na intenção de acalmar a viúva, que chorava copiosamente a morte do amado, alguém lhe trouxera um copo d’água, e a dona ainda teve o senso prático de perguntar se era filtrada.

Por essa e outras, me permito divagar nos desdobramentos pós-morte, o quanto é dinâmico, pessoas se reencontram, acordos são feitos, reuniões marcadas e, se a finalidade da oração é recomendar a alma: que se pondere com os rótulos. Pois, o vai com Deus já está de bom tamanho.

Ao se entrar na existência o homem não tem a menor idéia do que acontece ao seu redor. Muito menos ao sair. Nesse entretempo, os funerais não passam de reunião social para muitos. Mas quando a dor da perda do ente querido invade o corpo e alma, dissipa a ilusão de quem morre são os outros.

Conheci Valcir Almeida no início dos anos 80, numa sala de espera do Banerj. Trazia consigo dezenas de exemplares do jornal, e por maior que fosse o chá de cadeira, não perdia o sorriso, pela certeza de que não existe ninguém nesse mundo sem paixão e sem fome. E o seu Hoje estava às ordens.

O pensamento cartesiano nos remete a expressão de que Deus é a natureza. A questão é que a natureza ao decidir arrumar a casa, está sempre prestes a abandonar quem quer que seja, sem a menor misericórdia. Talvez por isso, volta e meia, ele beijava a santinha pendurada em seu pescoço.

Obstinado pelo seu negócio, foi um homem a imagem do seu tempo. Nem mais nem menos, diria quase na medida certa. A impressão que se tinha é que já acordava rindo, e assim como a sombra que segue o corpo, nem na quietude mais profunda lhe era possível esconder o seu próprio sorriso.

Em 1984, munido com a tiragem excepcional de um suplemento publicitário em favor do candidato do PDT, invadiu Duque de Caxias e encarou a máquina do interventor federal Hidekel de Freitas, e elegeu Juberlan de Oliveira prefeito da cidade.

Dois anos depois, na convenção do PDT, mais sorridente do que nunca e, confiante que estava no coração dos seus pares, se mostrou como concorrente natural ao partido às eleições municipais e, por um tombo a menos, não veio a ser o prefeito de Nova Iguaçu.

Foi preterido pelos convencionais do partido que optaram pela embalagem de um forasteiro brizolista de última hora, sem darem conta do que vinha dentro. Gentil e educado com seus desafetos, sempre esteve pronto a recomeçar a qualquer tempo e em qualquer hora, pena que alguns não entenderam.

Carlos Gilberto Triel é jornalista. E apresenta a oração da Ave Maria de 2ª a 6ª feira 17:55hs Rádio Tropical 830AM. www.tropical830am.com.br

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