15.3.11

"A PRÓXIMA ATRAÇÃO"

Por Carlos Gilberto Triel

O vereador Gordo Pedra entrou na ante-sala do gabinete da prefeita em alto estilo:
- Quero falar com a prefeita agora. Quero ver o corno que vai me impedir.

Matilde, apavorada se agarrou a imagem de São Eustáquio:
- Sangue de Jesus tem poder! Eu não tenho dinheiro! Leve o que quiser, mas não me mate!

Gordo Pedra falando alto e chutando a mesa:
- Matar é o cacête! Se alguém morrer hoje aqui, não fui eu. Foi Deus!

Matilde balbuciando palavras:
- Ali... primeira... porta... à esquerda:

Em sua sala, a prefeita Shirley, de volta aos tempos de debutante, suspirava ao contemplar uma antiga foto de normalista com um leve sorriso de nostalgia.

Gordo Pedra, entrou sem bater a trezentos chifres por hora:
- Não sou corno pra ser enganado. Estou arrependido de ter posto minha foto ao seu lado nos caltarzes de altidó?

Shirley indignada, mas não tão surpresa com a visita do Gordo:
- Mas o quê que é isso!?? Como se atreve a invadir minha sala desse jeito? Quem o senhor pensa que é?

Gordo Pedra fez o discurso, cuspindo em todas as direções:
- Essa sala pertence ao povo e, como representante do povo eu quero saber para onde foi à grana do carnaval?

Shirley, esquivou-se dos respingos e respondeu no mesmo tom de formalidade:
- Primeiro o senhor se acalme. O fato de ser vereador não lhe dá direito nem tampouco imunidade para invadir minha sala, e eu mando lhe prender por invasão e desacato a autoridade.

Gordo Pedra viu que não era por ali:
- Pô Shirley você prometeu que liberaria a grana do Carnaval e, nessa parada de receber depois quem ficou mal com a galera fui eu.

Shirley cortando imediatamente as intimidades:
- Antes de tudo eu gostaria que daqui por diante o senhor se referisse a minha pessoa acompanhada do tratamento senhora.

Gordo Pedra, sentiu que vacilou feio:
- Foi mal, excelença, me desculpe, falou?

Shirley como se estivesse em rede nacional de televisão:
- Já que estamos em situação de diálogo, que fique claro que a lei das responsabilidades fiscais não me permite mudar uma só vírgula para subvenção do carnaval. E se houve falha técnica iremos corrigir; e que o senhor e sua equipe atendam as exigências legais para a liberação do dinheiro.

Gordo Pedra, grosseria pouca é bobagem:
- Mas você me prometeu uma rapidinha... Quero dizer, a senhora me prometeu uma grana rapidinha?

Shirley, aos inconvenientes se aplica a lei:
- É verdade, mas eu não posso pagar com dinheiro público compromissos que não comprovem o destino desse dinheiro.

Gordo Pedra, não gostou do veneno da própria espécie:
- Data vênia excelença! O dinheiro é pro carnaval!

Shirley imaginando que está a falar para um Brasil de audiência:
- Ok, é para o carnaval. Mas e daí? Admiro muito que na condição de vereador, o senhor não saiba que essas coisas precisam vir junto com um processo e que depois de formalizado, se aguarde os tramites legais para pagamento.

Gordo Pedra, acreditou em promessa de político:
- É o tal negócio, eu falei que a parada tinha que ser igual a pão de padaria, pá e bola. E a senhora me prometeu que chegava junto...

Shirley roeu a corda, deu a volta e saiu por cima:
- Eu disse que faria tudo que estivesse ao meu alcance para o que dinheiro chegasse o mais rápido possível. Mas, isso não significa abrir a gaveta e pagar assim e, sem nenhum documento e prestação de contas.

Gordo Pedra, saudades dos bons tempos em que:
- No ano passado o Paraíba meteu a mão no saco e coçou legal, pôs a merreca na pata e adoçou cuíca com rapadura.

Shirley, falando alto para as paredes e a quem mais quisesse ouvir:
- Vereador, eu não sei e nem me interessa saber como agiu o ex-prefeito. Quero sair desse prédio do jeito como entrei, leve livre e solta pela porta da frente, e não presa e algemada pelo corredor dos fundos.

Gordo Pedra, caiu a ficha de que entrou numa gelada:
- Nas minhas paradas o combinado não é caro. E ainda assim levei calça arriada. Foi mal, excelença, me desculpe.

Shirley, finalizando mais um ato da peça “Todos Os Patos São Iguais” do teatro de fantoches de Nova Laranja:
- Eu compreendo, e o nobre vereador está desculpado. E agora me dê licença porque tenho hora marcada no Salão com o meu secretário da Comunicação, o Infantil, que me sugeriu um look mais fashion no meu cabelo.

Gordo Pedra compreendeu que fora ali, exatamente nesse ponto, que comera o bombom envenenado:
- Até mais, excelença... Numa boa.

Shirley, afabilidade sarcástica:
- Passe bem, senhor vereador. Mas por favor, ao sair peça a Sandra ou a Matilde que me tragam umas toalhas e uns dois litros de álcool para secar todos esses pingos em cima da mesa.

Carlos Gilberto Triel é jornalista e apresenta a Ave Maria, a maior audiência das rádios no país. Na Rádio Tropical 830 AM é transmitida de segunda a sexta-feira às 17:50 horas e na web www.tropical830am.com.br. Os personagens, diálogos, situações e lugares são criações livres, qualquer semelhança com casos e pessoas é mera coincidência.

Nenhum comentário: