14.2.11

"A GREVE DOS CAMELÔS"

Por Carlos Gilberto Triel

A prefeita de Nova Laranja está passando um dobrado com essa turma de secretários e auxiliares. Do desgaste emocional, da lentidão burocrática às intrigas palacianas, tudo vem em dobro.

Afinal, o povo não pediu que ela fosse prefeita. Está lá porque quis, agora tem mais é que exibir o equilíbrio para subsidiar as derradeiras ambições do prefeito consorte, nessa obsessão ao poder na cidade de Nova... Laranja.

Tanto mais insuportável que ouvir explicações de que os camelôs estão assim porque não pode ser doutro jeito, e se mudar ali vai prejudicar aqui e acolá; o pior é ter que ter estômago de avestruz para engolir a desfaçatez do que rola por fora.

Mas, de repente, num dia qualquer, a prefeita Shirley Dama passou pelos funcionários em sua alegria de debutante:

-Meninos, eu vi!

A secretária Matilde surpresa com o bom humor da prefeita:

- Prefeita, a senhora viu o quê?

Shirley quase que cantarolava de felicidade:

- Vi a cidade sem um único camelô. Parece que eles compreenderam que aqui tem uma prefeita de pulso e, partiram para as terras do além mar.

Matilde deixou cair os braços:

- Prefeita, a senhora está se iludindo. Os camelôs estão em greve, por isso não armaram suas barracas hoje.

A prefeita Shirley estarrecida:

- Greve? Como pode isso? Camelô fazendo greve!

Matilde explicou:

- Eles reivindicam a ocupação também aqui da Praça do Paço Municipal. Se os secretários não concordarem em aumentar suas áreas de trabalho não mais trabalharão na informalidade.

Prefeita Shirley:

- Ué, isso não é bom?

Matilde, sorrisinho sarcástico:

- Claro que não, prefeita. Alem dos valores agregados para interesses inconfessáveis, a relação custo benefício fez com que o comércio estabelecido prejudicasse os camelôs.

Prefeita Shirley impaciente:

- Vamos devagar Matilde, não estou entendendo nada. Como pode os lojistas prejudicar a vida do camelô? Não seria o contrário?

Matilde, revelando o que todo mundo sabe:

- Que nada, o comércio legal também se infiltrou no meio da rapaziada com puxadinhos, barracas e tão vendendo de tudo. Até operação de prótese peniana estão fazendo a 100 reais.

Prefeita quase que histérica:

- Pare o mundo! Pare que eu quero descer! Eu não agüento mais! Eu não agüento mais! Eu quero de volta minha vidinha de deputada!

Matilde e a revelação bombástica:

-Por isso que eles querem vir aqui para frente da prefeitura. Acham que aqui terão o apoio dos seus padrinhos e não serão importunados pelos lojistas.

A prefeita levantou as mãos aos céus:

- A que ponto chegou! Meu Deus, se a imprensa tomar conhecimento disso eu e o beato sacristão do meu marido estaremos muito mal!

Matilde então contou que:

- O meu cunhado dias desses, tropeçou no esticadinho de uma lojinha dos primos de Mubarak, e caiu de cara no chão quebrando a dentadura novinha.

Prefeita Shirley, decisiva:

- Me chame o secretário da Zona Franca da Mãe Joana agora! Ele vai ter que me explicar toda essa história.

Matilde com habilidade:

- Sinto muito prefeita, ele se demitiu hoje cedo.

Prefeita surpresa:

- O quê! Ele se demitiu por causa da greve?

Matilde impiedosamente franca:

- Mais ou menos. Na verdade o ex-Secretário comprou uma barraca e foi se juntar aos colegas grevistas para protestar contra a sacanagem dos lojistas.

Por Carlos Gilberto Triel é jornalista e apresenta a Ave Maria, a maior audiência das rádios no país. Na Rádio Tropical 830 AM é transmitida de segunda a sexta-feira às 17:50 horas e na web www.tropical830am.com.br

Os personagens, fatos e diálogos e localidade são fictícios, toda e qualquer semelhança é mera coincidência.

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