24.12.11

“UM CONTO PARA O NATAL”

Por Carlos Gilberto Triel

Chininha apareceu lá em casa há uns 4 anos. Veio junto com outro irmãozinho. Os dois foram deixados no nosso portão, dentro duma sacola. Monica, a minha filha, quem lhe deu esse nome.

O mano desapareceu. Só ficou a pretinha, malhada em amarelo e branco - uma gatinha que no passar dos meses se transformou numa gata, e que gata! Chininha, o miau cobiçado dos gatos e gatões da Rua do Pelourinho.

Minha mãe já tinha um gato amarelo, o Amarelão, que acabou gamando pela Chininha. Não saia de perto dela, mas Chininha não lhe dava a mínima. Ela era mesmo amarradona no Pretão, um mestiço angorá que perambulava pelas redondezas.

Os dois ficavam um tempão rosnando, no maior agarramento, ora na amendoeira, ora nas lajes e cumeeiras, pro desespero do Amarelão que volta e meia se emputecia e saia na porrada com o Pretão.

Não é que um dia, o safado do Pretão engravidou nossa Chininha. Parto difícil. Nasceram três, sobreviveram dois:Tico e Teco. Mãe estremada, cheia de zelo, ninguém chegava perto dos filhotes.

Vieram outros partos e, nisso nós mudamos e, minha mãe continuou morando no mesmo lugar. Chininha sem a presença da Monica, se afeiçoa a sua coleguinha, Andréia,
Mas sempre que engravidava, em nossa casa que ela ia dar a luz. Mas, um dia Chininha cometeu um grande erro. Não sei por que carga d’águas acabou tendo o seu último parto na casa da menina.

A avó da garota, fervorosa serva do Senhor, imensamente bem servida de gordura e verdades santa e - cantarolou um belo hino de louvor a Deus, dizendo que já existiam muitos gatos no pedaço, no ritmo da benção, pôs os gatinhos na sacola e os jogou no caminhão de lixo.

Vendo que suas crias tinham sido atiradas na caçamba rotativa, Chininha sentiu o que sentem as mães em situações que os filhos estão ameaçados e, instintivamente não vacilou um só instante, pulou dentro da betoneira do caminhão e desapareceu junto com os filhotes.

Feliz Natal aos ateus, incrédulos, irreverentes, blasfemos e afins e, que mesmo não levando a sério o sacro e o profano, não deixam de agir com humanidade quando se trata da vida dos animais e dos seus semelhantes.

(Publicado no Jornal de Hoje de Nova Iguaçu 13/12/1984)

Carlos Gilberto Triel, apresenta de segunda a sexta-feira 17:50hs na Rádio Tropical 830AM, Oração da Ave Maria. Na web www.tropical830am.com.br

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