7.12.06

Poder iguaçuano para iguaçuano

Desde o dia 19 de fevereiro de 2002 a Câmara Municipal de Nova Iguaçu mudou o seu comportamento em relação aos governos anteriores. Neste dia, um grupo formado por 11 vereadores protocolou a pedido de abertura de uma CPI, que ficou na história política da cidade como caso Sky e Ber-Fel. Nelson Bornier, que então era prefeito de Nova Iguaçu, não esparava que tal fato aconteceria. O estopim para conseguir a última assinatura aconteceu quando Bornier disse a Daniel da Padaria que vereador não mandava nada. Daniel, que tentava amenizar a crise, deixou a condição de bombeiro e passou a agir como incendiário. Começa ali a crise que deu a Câmara uma certa autonomia. Antes o Poder Legislativo se comportava como um Pit-Bull na colera do Poder Executivo.
Neste mesmo ano, Nelson Bornier se desincompatibilizou do vargo de prefeito - 2 de abril de 2002 - para ser candidato a deputado federal pelo PL. Mario Marques assumiu a cadeira de titular do município, nomeando Jorge Gama para ser o secretário de Governo. Nesta ocasião, muitas vezes Gama conversava com este colunista na tentativa de buscar um diálogo com o grupo que fazia oposição ao governo. De um lado Jorge Gama pedia a governavilidade e do outro os vereadores queriam que Marques não ficasse refém de acordos com Bornier. Nessa época sugeri a Jorge Gama que o o governo deveria escolher um membro da oposição, que já contava com 14 vereadores - o suficiente para cassar uma mandato - para ser o líder de governo na Câmarqa. Tal iniciativa mostraria que Mario Marques estaria disposto a governa com a Câmara e a oposição não poderia reclamar dessa tentativa de aproximação. Essa sugestão criou uma crise. Um vereador da época que prefiro não dizer o nome, disse que se o governo fizesse o que eu sugeri, o grupo poderia ser desfeito e criar uma crise interna na própria Câmara. Mario Marques não havia percebi isso e não indicou alguém do grupo para ser o líder de governo. O líder continuo sendo Acarisi Ribeiro que, logo em seguida, foi eleito deputado estadual, dando deixando sua cadeira para ser ocupada por Nagi Almawy, que sentou na condição de governista.
Nesta ocasião, outras CPIs foram instaladas, sobretudo depois da exoneração de algumas pessoas indicadas por vereadores oposicionistas e que faziam parte da estrutura de governo. A FENIG, por exemplo, era uma espécie de anexo da Câmara.
A teimosia de Mario Marques em manter sua relação com Nelson Bornier custou a ele diversas crises. Em determinado momento a área da saúde foi a bola da vez. Gilberto Badaró, que então era secretário de Saúde, teve que enfrentar os vereadores em uma audiência pública marcada pela pressão da oposição. Badaró deixou a pasta e no seu lugar foi nomeado Quintella. Ele era um canal de conversa entre o governo e a oposição. No entanto, sua permanência foi cargo foi curta. É que na Câmara aumentava cada vez mais a crise da relação entre os poderes. O ápice desta crise aconteceu quando protocolada a CPI para apurar os convênios das cooperativas com a Prefeitura, além de uma CPI quye ficou conhecida como caso Sase.
Essas CPIs, cujos relatórios foram duros contra o governo, animava Rogério Lisboa, então vereador e um dos principais membros da oposição, a ser candidato a prefeito com o apoio da Câmara. Rogério, que tinha uma postura mais conservadora, teve sua aproximação ao movimento popular pavimentada por este colunista. Na época, para os movimentos populares, diziamos que não adiantaria apenas a Câmara pressionar o Poder Executivo. Seria necessária participação dos setores organizados da sociedade. Essa aproximação resultou em diversos manifestos.
Nessa ocasião, eleito e em Brasília, Nelson Bornier já vislumbrava uma possível derrota na disputa de 2004. Mario Marques estava fragilizado e ele seria candidato natural à reeleição. Quanto mais Nelson se fragilizava, mais Rogério Lisboa ficava entusiasmado com a possibilidade de concorrer a prefeito. Mas foi justamente aí que surgiu Lindberg Farias (PT).
Lindberg surge em Nova Iguaçu depois de trair seus companheiros em Brasília, votando contrário aos servidores públicos e a pífio aumento do salário mínimo. Isso foi o suficiente para fazer com que José Dirceu investisse em Lidnerg Farias para ser a nova estrela do PT fluminense.
Antes de vir para Nova Iguaçu, Lindberg ensaiou a cidade de São Gonçalo. Mas viu que lé nada conseguiria. Através de contatos com os vereadores, Rogério Lisboa desistiu da candidatura e junto com Maurílio Manteiga, Carlos Ferreira, Fernando Cid e Tuninho da Padaria, resolveu apoiar Lindberg. O então candidato do Partido dos Trabalhadores foi levado pelos cinco vereadores citados acima para uma conversa com Marcello Alencar e Luiz Paulo Corrêa da Rocha. A conversa aconteceu em Petrópolis. Marcello abençouu a aliança, desde que o PSDB fosse o vice na chapa. Maurílio Manteiga foi o escolhido pelo grupo para ser o vice. Ele desfiliou-se do PFL e virou tucano. Além de representar o PSDB na aliança, Maurílio seria a participação do grupo de vereadores num possível governo PT-PSDB. A aliança fopi comemorada num almoço realizado no restaurante ao lado da casa de espetáculos Riosampa.
Tudo acertado, começou uma crise. Itamar Serpa, que era o presidente do PSDB em Nova Iguaçu, era contrário a essa aliança. Para Serpa se aliar ao governo e a Bornier era mais interessante, mas para não abrir crise com os tucanos fluminenses, começou a se movimentar nos bastidores para ser o vice de Lindberg Farias. Neste momento começava a bolada nas costas de Maurílio Manteiga. De olho no poder econômico de Itamar, o que poderia ajudar muito na campanha, Lindberg Farias deu uma pernada de anão em Maurílio e foi conversar com Marcello, dizendo que o PSDB nacional indicara o Itamar para compor a chapa. Começava ali, nesta ação, a desconfiança de todos os vereadores que apoiavam Lindberg sobre o seu comportamento. Viram seu pragmatismo exarcebado, mas não poderiam pular do barco. Se os vereadores pulassem do barco, ficariam fragilizados e com um forte oponente a eles: Nelson Bornier e a máquina estadual.
Maurílio foi orgânico e mesmo limado do processo, não se candidatou a vereador e ficou como um dos coordenadores da campanha de Lindberg Farias.
Fernando Gonçalvez, por sua vez, aparecia nas pesquisas como o favorito. Walney perdeu espaço no PMDB, com a filiação de Bornier, e Alexandre Novaes foi golpeado dentro do PDT, que se entregou ao PMDB. Alexandre e Walney resolveram apoiar Gonçalves, o líder nas pésquisas, mas sem apoio de forças políticas e com dificuldades financeiras para fazer uma campanha.
Lindberg Farias era o novo na cidade. Jovem, muito falante, o rapaz seria a salvação para uma nova forma de se fazer política em Nova Iguaçu. Assim, pelo menos, era a mensagem que tentava passar a sua campanha. Porém, nos bastidores pouca gente sabia das ações da campanha de Lindbberg. Vou contar uma: Depois que um jornal local publicou que Fernando Gonçalves estava condenado pela Justiça - matéria que atendia aos interesses de Mario e Bornier -, Lindberg aproveito o fato para acirrar a crise entre Nelson e Fernando Gonçalves. Leandro Cruz reproduziu milhares de cópias do jornal e botou uma equipe para distribuir nas ruas. Inicialmente todos pensavam que a ação teria o dedo de Bornier e Marques. Ledo engano: era uma ação da campanha de Lindberg Farias, arquitetada por Leandro Cruz, conforme ficou provado com a detenção das pessoas que faziam a distribuição dos panfletos. Hoje todas elas estão no governo Lindberg Farias.
Tal iniciativa gerou uma crise entre Gonçalves e Lindberg. No apartamento de Gonçalves, Walney Rocha quase perdeu a linha. Sua esposa era vice na chapa de Fernando.
Em suma: desde 19 de fevereiro de 2002 a Câmara passou a ter um papel decisivo na elição de prefeito. Foram os vereadores do passado que pavimentaram a eleição de Lindberg Farias.
Hoje, com a eleição de Jorge Marotte para presidente da Câmara, tendo como Daniel da Padaria seu articulador de bastidor, a fortalecida para o pleito de 2008 é Sheila Gama (PDT), ainda mais agora com o mandato de deputada. Lindberg Farias vai apostar tudo em obras. Os vereadores vão se beneficiar delas. Lindberg terá poucos partidos para fazer aliança e o seu tempo de televisão, que no passado era maior que o de seus adversários, será mais modesto. A prova de que Sheila Gama passa a ser a pule de dez com a eleição de Jorge Marotte para presidente da Câmara pode ser vista na campanha de 2006, onde Daniel e Marrote apoiaram Sheila Gama. Por fora corre Rogério Lisboa (PFL). Ele pode se aliar à Sheila. Assim como Sheila poderá recebr o apoio de Bornier. A forma como Lindberg Farias vem administrando e fazendo política tem lhe proporcionado o isolamento. Fernando Gonçalves, Walney Rocha, José Távora e todas as forças políticas da cidade descobriram que não vale investir num governo que privilegia as pessoas de fora em detrimento das forças pol´ticas locais. Tudo indica que haverá uma grande aliança branca pela retomada do poder em Nova Iguaçu por pessoas de Nova Iguaçu. Até mesmo o PCdoB pode se aliar à Sheila Gama e deixar Lindberg. Em 1998 foi assim. PCdoB apoiou Sheila e a legenda foi muito respeitada por Aluízio Gama.
O chamado pacto da não agressão já começa a ser conversado nos bastidores. O que está em jogo é a retomada do poder. Qualquer vencedor de Nova Iguaçu nas eleições de 2008, pelo que se desenhou neste governo, será melhor que a vitória de Lindberg Farias. Isso é o que as cabeças coroadas do governo não conseguem ver. O pacto da respeitabilidade interna será o maior adversário de Lindberg Farias, assim como o seu próprio partido será um grande opositor. Guardem esse artigo para a posteridade. Não precisa chamar Nostradamus para ver isso. É que Lindberg Farias e sua trupe precisam de bengalas, pois caminham na política como se fossem cegos.

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