Por Claudia Maria
O Fênix de Nova Laranja
Carlos Gilberto Triel
Habitualmente como fazia todos os dias, o então ex-deputado Ferdinando Gonçalo saiu às ruas naquele final de tarde. Deteve-se próximo a Catedral do Padroeiro da cidade.
Sentia-se, como dizia Augusto dos Anjos, como a influência má dos signos do Zodíaco. Ah, como precisava de uma virada de mesa! Está cada vez pior a soberba do Paraíba, safado.
- Boa tarde, Cri-Cri!
- E aí Ferdinando como está?
- Se Deus quiser, amanhã estarei em Brasília. Algo de bom precisa acontecer.
Cri-Cri não perdeu a oportunidade:
- Cuidado, a Federal tá passando o rodo.
Ferdinando fingiu não ouvir a maldade, levantou a cabeça com estivesse olhando longe, bem por trás da Serra do Madureira:
- É, está ameaçando cair um pé d’água arrumado lá pelas bandas da Pedreira.
De repente, saído do nada, um carro de som anuncia produtos de uma loja de macumba. A batida dos atabaques, do agogô e o cântico dos orixás são contagiantes até nos que não são dessa praia.
Ferdinando é sacudido por um tranco seguido de calafrio de balançar até quem é cobra criada. Mas segurou bem.
- O que houve Ferdinando?
- Nada não, estou legal.
Não se sabe pelos mistérios da fé ou pela mania de beijar quem se atreva a passar meio metro de sua área de ação; o fato é que Ferdinando, tomado por estranha emoção, deu um salto brusco e tascou um dos seus melhores Smaaack num gordinho desavisado, trajado em roupa de Santo, que coincidentemente passava à sua frente .
– Ih cacête! O que quê que é isso agora!? Valei-me Seu 7 Flechas!
Assustou-se o gordinho, e com razão.
O beijo estalou na imensidão do Cosmos e uma sucessão de acasos se desenrolou naquele final de tarde e começo de noite. Uma lágrima do espaço caiu bem no centro do monumento armado, lavando toda sorte de raspas de rapaduras, formigas e formigões, que vinham sendo a vidinha besta e sem graça de Ferdinando.
Se nesses tempos de descobertas quânticas aprendemos que um bater de asas de borboleta provoca até maremotos, por que duvidar que a magia de abrir caminhos não possa dar uma mãozinha aos nossos vis caprichos? E foi o que aconteceu.
Ora, o deputado pastor Emanuel Fhreioso, de olho gordo no emprego de senador do colega Bispo Marcelino Trivella, avassalou todo o Estado com outdoors, se dizendo indicado a um prêmio internacional da Paz. Meu Deus!
Fhreioso, sabendo que não se pode mudar de partido sem perder o mandato, faz um acordo toma-lá, dá-cá para um desligamento sem traumas e se licencia por algum tempo da Câmara Federal deixando em aberto a vaga para a próxima da fila...
Cristina Portugal, primeira suplente, filha daquele que tem instintos primitivos, não se entusiasma com a idéia em ser deputada federal somente por alguns meses. Está muito bem, abrigada, como vereadora e secretária do prefeito Edmundo Paz, no Rio de Carnaval. Sobrou para quem?
Ferdinando Gonçalo, o segundo suplente, humilhado nas últimas eleições pelos votos não computados - era a ânsia do impossível.
Agora, um Fênix com data marcada pra morrer de novo, mas não importa; o caminho dos Orixás lhe deu nunca mais, outra vez, sua última e derradeira chance.
Nova Laranja então passa a ter - juntamente com Felson Banner - mais um deputado federal. Um para defender historicamente a soberania nacional (sic) descobrindo a fórmula da Coca Cola e o outro para defender o quê que ninguém sabe.
Emanou-se uma evolução de talentos políticos em todo mundo; políticos estigmatizados como predatórios precisam matar mais do que um boi por dia para se reelegerem.
Quem sempre achou que o dinheiro não aceita desaforo continua certo, todavia não se livra de se perpetuar como figurinha inexpressiva no Congresso Nacional.
O tempo urge. A sobrevida política que ganhou é muito curta, a Ferdinando Gonçalo compete decidir, entre continuar o folclore de ser arroz de festa nas esquinas da cidade, ou partir para cima das lideranças comunitárias com propostas audaciosas.
Caso contrário voltará a andar pelo centro de Nova Laranja, sem mandato, chutando latas, num dia tal qual criança de cara colada no vidro da vitrine de brinquedos, noutro cabisbaixo, vendo em cada mancha ou rachadura entre pedras e painéis, a lembrança do que foi e do que restou. Trágico? Claro que não, ainda lhe restará à esperança de um dia, quem sabe, vir a ser nome de rua.
Carlos Gilberto Triel, jornalista e apresentador da Ave Maria na Rádio Tropical 830 AM Segunda a Sexta-Feira 17:45 hs
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