9.12.09

O artigo do Marcos Aurélio

Atendendo ao convite do Almeida venho expôr, como cientista e cidadão, argumentos acerca do tema tão falado, porém pouco compreendido.
O debate que tive com a Claudinha foi sobre o tema do PT no governo. Quem não se lembra da campanha petista, quando era oposição, da “Ética na política”, onde os petistas reclamavam da corrupção em governos anteriores e se apresentavam como vestais e defensores de um modo de fazer política com as mãos limpas. O mensalão de Marcos Valério e José Dirceu destruiu esse mito.
A Cláudia afirmou que o que a irrita no PT é a hipocrisia, os outros partidos são também useiros e vezeiros da corrupção, mas não se apresentam como santos. Eu afirmei, e afirmo que o discurso de oposição do PT sobre a ética na política era só um discurso moralista com fins marqueteiros para iludir os tolos ou como bem definiu Leonel Brizola: “O PT é a UDN de macacão”, ou seja, moralista por fora, corrupto e golpista por dentro. Mas isso não interfere na minha avaliação do governo Lula, que é positiva; mas como? O PT é corrupto e hipócrita e eu avalio o governo federal petista como bom. Como isso é possível? Vamos lá.
A palavra ética vem do grego ethos que significa costumes, que seria o comportamento costumeiro aceito por toda a coletividade, já moral, vem do latim morales que também significa costume. Como diferenciá-los então? Vamos usar o conceito que ética é a moral da sociedade ou grupo, e moral é a ética do cidadão, ou seja, ética é coletiva e moral é individual.
O ato de fazer política tem fins coletivos, por isso segue ditames éticos, mas ai vem o problema, a ética da política é diferenciada. O sociólogo alemão Max Weber dizia que um pacifista no poder teria que, caso fosse necessário, declarar guerra (o paradoxo é atual o presidente Obama ganhou o Nobel da paz, e dias depois do anúncio enviou mais de 30 mil soldados para combater no Afeganistão), ou seja: o governante teria sua convicção, mas o governo imporia a sua responsabilidade diante dos fatos.
Quando o PT fazia sua pregação moralista fingia desconhecer que o ato de fazer política no Brasil é intrinsecamente corrupto, um exemplo me vem a mente, moradores de certo bairro penduraram uma faixa onde se lia “Senhor candidato, sem obras sem voto”, qual o problema de tão singela faixa, que foi considerada pelo jornal O Dia como exemplo de cidadania. Primeiro, o candidato não pode fazer obras, isso é crime eleitoral, pois faz agora e cobra depois aos cofres públicos. Segundo, isso é uma forma de cabrestização do voto onde pequenas intervenções feitas com dinheiro de campanha compram votos, empobrecem o debate político e alimentam políticos populistas. Terceiro, subverte as funções políticas, vereador e deputado são funções legislativas, não executivas, fazem leis, não obras. Quarto, aceitando que o legislador possa indicar algumas obras, perpetua-se os que já têm o poder, pois eles têm a máquina política nas mãos. A inocente faixa é retrato da nossa forma de encarar a política como sendo o "é dando que se recebe".

A ética na política é diferenciada, mas no Brasil ela é alimentada por uma cidadania incompleta, o povo não exige do político que ele exerça suas funções honestamente, mas cobra para que ele se corrompa para dar o seu voto por pequenas obras,ou badulaques (dentaduras, óculos, operações, serviços sociais etc, etc, etc),
A política tem uma ética própria, mas a corrupção não tem que fazer parte dela. Ela no Brasil é tão somente sintoma do esgarçamento de nosso tecido social onde pais não educam mais seus filhos, onde professores são agredidos por alunos, onde policiais roubam, juízes vendem sentenças entre outras anomalias e relativizações de valores. Roubar, ou não, passou a ser somente um caso de oportunidade.

Ou seja, chegamos a triste conclusão que temos políticos que merecemos. São tão somente espelho de nossa falta de moral, que gera uma ética corrupta e desonesta.O PT quando abriu mão do discurso moralista (que ele já sabia de antemão que era apenas bravata), apenas se adaptou para sobreviver ao mundo real da política e se tornou mais do mesmo, se humanizando para que fosse popular, como demonstram os índices de avaliação do governo que batem em 83%.
Infelizmente chegamos a um dilema dialético, como ter políticos íntegros quando a honestidade está fora de nosso contexto ético e não se traduz em votos. Quem souber responder ganha um doce, mas deixa de ganhar uma dentadura na próximas eleições.

2 comentários:

andressa eliane disse...

Almeida, convide o Marcos para a sua festa de confraternização...muito bom o artigo dele...amei!!!!

Unknown disse...

Parabéns, Marcos Aurélio.