30.3.07

Caros amigos, tive o prazer de trabalhar com o Manoel de Almeida, nosso querido Manoelzinho. Relutei em escrever algo sobre a sua passagem, mas um sentimento inquietante me tomou de assalto e fez com que eu escrevesse essas linhas:

Manoel é uma figura que vai deixar muitas saudades. Foi no dia-a-dia, no corre-corre do fechamento das edições do ZM Notícias que aprendi a conhecer um pouco mais sobre o Manoelzinho. Homem de aparência rude, inicialmente, tal aparência era como se fosse um forma de proteger o coração bondoso e complacente que tinha. Digo complacente, sim. Todos sabem que em determinado momento da minha vida profissional, por motivos do meu estilo, sofri problemas como retaliações políticas. Manoel, além de solidário a mim, fez o primeiro convite para trabalhar para ele. Confesso que na época disse-lhe"Manoel, Manoe! Vou trazer problema para você. Minha mão fixou mais pesada do antes. Isso vai dar complicação", alertei.
Manoel pouco se lixou do que eu disse. Respondeu-me assim: "Quem manda no meu jornal sou eu. Não se preocupe. Você é um profissional que eu teria orgulho de trabalhar para mim". Após essa diálogo, ficamos de conversar e acertar a minha para o ZM Notícias. Passaram alguns messes e Manoel tornou a me convidar retomando o assunto.
Com a situação apertada, resolvi escutar o Manelzinho. Ele me conveceu a voltar às ruas e fazer matérias políticas dentro da linha editorial do ZM Notícias. Logo na minha primeira entrevista para o ZM, acompanhado do Marcelo de Almeida, filho do Manoel e grande amigo que tenho, fui cobrir a vinda do ministro Patrus Ananias. Lindberg se assustou ao me ver em seu gabinete e, tenso, olhou para o Marcelo, que estava ao meu lado. Marcelo logo fez questão de dizer que estava ali pelo ZM Notícias. Meu objetivo maior era colher dados sobre o Bolsa Família, pauta da entrevista coletiva concedida pelo ministro e pelo prefeito.
Fui para redação bater o texto. Em seguida chegou Manoel. Como podia ser diferente, ele perguntou como foi a entrevista. Disse que foi boa, mas estar ao lado de Lindberg foi terrível. Ele sorriu e saiu de perto.
O tempo foi passando e Manoel pedia para cobrir coisas sobre política em outros municípios. Ele ficava orgulhoso quando eu dizia que os promotores do Ministério Público liam as matérias e que iriam observar os casos noticiados pelo ZM. Um das matérias que deixo Manoel muito feliz foi a falava sobre o abandono das obras da sede da OAB. A matéria veícula pelo ZM gerou uma polêmica grande - sempre faço besteira! -, pois ela falava que menores estavam frequentando o local para consumirem drogas. É evidente que isso acontecendo num prédio da OAB dá uma outra proporção. Tal fato pautou o jornal EXTRA e fez com que a OAB, logo no dia em que foi publicada a primeira matéria, retomasse as obras da sede que hoje está ocupando.
Os dias foram se passando e Manoel cada vez mais passava à condição de amigo. Nós não mantínhamos, apenas, a relação funcinário e empregador. Inúmeras vezes Manoel desviava a conversa sobre a pauta e perguntava como estava a minha vida. Me dava conselhos e sempre dizia: "você é do ZM. Nós nos preocupamos com você".
Passados alguns meses, Manoel começou a ficar com dívidas a receber, acumulando dinheiro nas mãos dos outros. Ele fazia de tudo para receber, mas sempre encontrava obstáculos. Vendo que a situação começava a apertar, Manoel tomou a decisão de demitir eu e Cláudia Maria, que nem preciso dizer que é uma das maiores amigas e parceiras de profissão que encontrei nos últimos anos. Só que tem um detalhe importante em nossa demissão. Ao nos comunicar que não teria mais condições de nos manter, Manoel chorava copiosamente. Ele e Cláudia. Ele se abraçava a nós e dizia: "um amigo não pode abandonar o outro na estrada". Aquele dia foi muito importante para eu saber o quanto o Manoel gostava de nós. Ele chorava tanto que parecia que ali estava sendo cortado um laço de amizade. Cláudia chorava que não aguentava ver o Manoel chorar e eu sorria dos dois. Dizia: "Calma, Manoel! Você não escapar da gente assim tão fácil. Quando precisar de um serviço extra, mesmo se não tiver como pagar na hora, basta nos chamar".
As lágrimas do Manoel descia-lhe à face de forma pura. Era uma manifestação de um sentimento de amizade que transbordava dos seus olhos. Passando a mão sobre os cabelos com agilidade, ele mostrava o quanto estava transtornado com aquilo. Foi uma das maoires manifesta~ções de amizade e carinho que pude receber dele. A preocupação comigo, que antes mesmo da minha estréia no jornal ele demonstrava em nossas conversas.
Segunda-feira será a missa de 7º dia de sua passagem. Eu ainda teimo acreditar. Mas, sei que onde ele estiver, estará preocupado comigo. Sempre foi assim. Então, Manoel, segue um poema que fiz para o meu irmão - falecido em 1989- para você:

Qual o endereço do Céu
Eu vou te esvrever
Quero mandar mensagens
E também receber
Quero ver o seu nome
Nem que seja à sangue
Mas eu quero ver

Qual o endereço do Céu
Eu vou telefonar
Quero ouvir sua voz
Quero falar de nós
Eu quero conversar

Qual o endereço do Céu
Eu vou te visitar
Talvez não seja agora
Pode ser mais tarde
Mas vou te abraçar

Um comentário:

xandao disse...

Esse blog sempre tem prestado um serviço a população iguaçuana, passar informações que muitos não teriam acesso, mesmo algumas vezes divergindo das informações, as leio atentamente, essa em especifico me levou a comentar por dois motivos, o primeiro é que conheci o irmão do autor do blog e tive a oportunidade de ler esse poema a alguns anos, emocionando-me já na primeira leitura, agora novamente emocionado ao voltar a ler essa homenagem digo, Manuelzinho mande para todos nós esse endereço, ou mesmo um telefone, serão difícieis os tempos por aqui sem notícias suas. Fica uma homenagem de uma pessoa que conheceu pouco, porém o suficiente par saber que "esse homem era boa gente"!