Por Claudia Maria
A cidade que virou suco- ou melhor, bagaço
Assim que sentou em sua cadeira de monarca notou que alguma coisa estava errada. O seu antecessor, Mário Marca, costumava trabalhar com apenas uma secretária. Achou isso muito estranho e pouco chique. Afinal, tinha mandado vir três primas da Paraíba e não podia deixar as bichinhas desempregadas. Tratou de mandar comprar mais umas mesas e cadeiras e instalou as moças. Modificou também a estrutura do prédio. Precisava se proteger daquela gente que pedia de um tudo. Desde dentadura até carro zero.
Tá doido! Carro zero ele só daria mesmo prá sua santa mãezinha. Ela sim, merecia de um tudo. Por isso mandou fazer paredes e colocar portas fechadas com cadeado e segredo para abrir. A palavra mágica era: abre-te rapadura! Que só os mais chegados sabiam. Depois de três meses, 48 horas e 38 segundos de mandato já não agüentava mais. Nunca tinha ficado tanto tempo no mesmo lugar. E ainda precisava fazer uma porção de coisas. Era reunião disso, daquilo, uma tal de folha de pagamento que precisava pagar todos os meses. Uma loucura! Se soubesse que teria de trabalhar não teria nem começado.
E sabem o que é pior? Não tinha conseguido ainda fazer sua plantação de bananas. Aparece uma porção de técnicos dizendo que precisava fazer uma tal de licitação para comprar as bananas pelo menor preço. Ora bolas! Afinal, quem mandava naquela terra de ninguém! Não tinha sido eleito pelo voto cabresto? Então! Além do mais, sabia pela boca de algumas comadres que um cara antes dele tinha plantado laranjas em canteiros centrais da cidade. Que mau gosto! Assim que pudesse mandaria arrancar todos os pés! Banana é muito mais nutritiva, muito mais macia e a gente sempre pode deixar umas cascas na rua para alguém cair.
Foi quando resolveu deixar um pouco de lado toda aquela burocracia. Não conseguia mais ficar tanto tempo ali (já disse isso). Mesmo quando levava seu peão e suas bolas de gude para jogar com o primo Chiquinho era tudo um tédio. Resolveu chamar um nativo com o qual simpatizava um pouco. Seu nome era Zezinho da Padaria. Zezinho era muito amigo de Lisboeta, outro nativo simpático que cuidava do seu departamento de Obras Prontas. Estava decidido. Zezinho tocaria o reino enquanto ele sairia pela night como gostava de fazer desde os tempos de moleque.
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