18.9.06

A pólvora, o estopim e o fósforo

O futuro da política em Nova Iguaçu reserva uma certa tensão que pode ser sentida nos corredores da Cãmara e da Prefeitura. Tudo indica que a chamada "República de Volta Redonda", que se insere ai o nome da secretária municipal de Saúde, Sueli Pinto, será a bola-da-vez. A falta de prestação de contas sobre o dinheiro da saúde está irritando não apenas a oposição. O presidente da Comissão Municipal de Saúde da Câmara de Vereadores, Cláudio Cianni (PP), não ficou nada satisfeito com a matéria publicada pelo jornal Tribuna da Região, editado pelo jornalista Elizeu Pires. Cláudio Cianni deu sinais de que não vai permitir que sua imagem seja atingida, sob alegações de conivência, em relação a falta de prestação de contas do dinheiro da saúde.
Em 7 de julho, ele e os outros dois membros do comissão - vereador Diva Bastos (PP) e Chiquinho da Ambulância (PPS), remeteu à Sueli Pinto um documento produzido pela comissão solicitando todos os extratos bancários, notas fiscais e outros documetnos sobre a vida financeira da secretaria de Saúde. Até o momento Cianni não obteve respostas. Revoltado porque a secretária não o atendeu, o vereador enviou outro ofício ressaltando a obrigatoriedade de Sueli Pinto remeter os documentos sob pena de improbidade.
A iniciativa de Cianni se dá pela pressão que vem recebendo dos parlamentares da oposição, que prometem recorrer ao Ministério Público denunciando a secretária. O vereador não quer parecer tão complacente assim para a Justiça, e nos próximos dias deverá tomar medidas que podem complicar a vida da secretária e do governo.
Com essa situação acontecendo nos bastidores, o que pode contribuir para complicar mais a relação do governo com a Cãmara é a relação do prefeito com algumas pessoas.
Fernando Cid (PCdoB) foi aliado de primeira hora de Lindberg Farias e hojé é candidato a deputado estadual. Ele não fala, mas circula nas rodas políticas a sua insatisfação com o prefeito, tudo peo motivo de sua candidatura não receber os mesmos mimos que o vereador Marcos Fernandes (PSB) está recebendo de Lindberg. Isso em razão de Fernandes ter declarado apoio ao prefeito somente depois do primeiro turno.
Outra adversidade que antes estava velada, mas que agora é de conhecimento de todos é a relação de Carlos Ferreira (PT) com Lindberg Farias. Nas mesmas condições de Cid, Ferreira se vê sufocado pela prioridade que Farias deu à eleição de Rogério Lisboa (PFL). Tanto Lisboa quanto Ferreira foram aliados de Lindberg Farias assim que o paraibano chegou ao município para disputar a prefeitura. Entretanto, Carlos ferreira entende que deveria ser ele a prioridade do governo petista, e não seu adversário do PFL.
Suponhamos que Cid e Ferreira percam as eleições que estão para acontecer nos próximos dias. Isso acontece no mesmo momento em que a crise na relação entre instituições chega ao seu ponto mais alto na política municipal. O reflexo seria evidente no comportamento desses dois parlamentares na Câmara. Porém, agora vamos supor que os dois ganhem as eleições. Mais fortes, politicamente, eles seriam um empecílho na reeleição de Lindberg. Seria o caso da Lei de Talião: "Dente por dente, olho por olho".
Não páram por aí as adversidades que Lindberg Farias poderá encontrar assim que passar as eleições. Todos sabem que o fim do escrutínio dos votos em 2006 será o tiro de largada da disputa eleitoral municipal. Neste caso, Nelson Bornier (PMDB) e Mário Marques (PSDB) vão se dedicar a desconstruir o que Lindberg ainda nem construiu, que é um base de sustentação política ancorada nas forças políticas locais. Além desses possíveis adversários, o lançamento de Rosângela Gomes (PRB) a candidata ao Senado pode sinalizar o desejo da Igreja Univel de querer administrar Nova Iguaçu. Essa tese vai depender muito do resultado do Rosângela nas urnas e a Igreja Universal poderá todas as fichas nela.
É sabido que o bloco de sustentação do governo Lindberg Farias não é tão sólido assim, e isso piora quando observado a dinâmica da política. Imagine se todos os setores se unirem, neste momento em que Lindberg Farias está frágil na relação com as comunidades, tendo o mesmo discurso, ou seja: respeitar as diferenças em busca da igualdade. Aí um outro pensamento político poderia surgir: os adversários de Lindberg poderiam se unir em torno do esmo interesse, respeitando aquilo que os separam.
A falta de aliança com o povo; a entrega da administração a setores; a falta de política de governo e a sucessão de erros políticos e administrativos podem servir como pólvora e estopim nos próximos dias. As eleições de 2006 seriam, de certa forma, apenas o fósforo riscado.

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