18.3.08

Coisas da memória

Ontem o meu amigo Paulo Santos, que é um competente repórter-fotográfico, lançou o seu livro com imagens de diversos pontos de Nova Iguaçu. Porém, a conclusão desta obra, sem dúvidas, deve-se à dedicação de Paulo. Ele presenteou Nova Iguaçu com um registro memorável, justamente em um período onde a degeneração desta cidade ocontece em velocidade acelerada.
Como todos sabem, não sou de frequentar o Espaço Cultural Sylvio Monteiro, mas ontem não deixei de ir em razão do Paulinho. Testemunhei, também, que o Espaço Cultural Sylvio Monteiro, realmente, está precisando de algumas intervenções da Prefeitura. Quando lá estive, ontem, lembrei do Sylvio Monteiro e seus últimos dias em presença material entre nós. Aliás, lá encontrei pessoas que, assim como eu, fizeram de tudo no acompanhamento do nosso grande Sylvio nos seus penosos dias após o seu acidente que o levou à infecção hospitalar.
Voltando ao Espaço Cultural e deixando em paz nosso querido Sylvio Monteiro - muitas saudades desse performático artista -, digo que a falta de manutenção em preservar o que temos é um problema que atravessa governos, assim como nessa administração lindberguiana. Vou citar um exemplo, para que esses camaradas que comandam a Cultura e que vieram de outras bandas para nos colonizar tenham, talvez, uma noção desse abandono. No próximo dia 22, o Correio da Lavoura, onde colaboro há mais de uma década, completará 91 anos de circulação ininterrupta. Ele, entre os periódicos, está entre os cinco mais antigos do Brasil. Porém, seu arquivo, em precárias condições de armazenamento, precisa urgentemente ser digitalizado, sob pena de perdermos registros únicos das últimas nove décadas desta terra.
Cito o arquivo do Correio da Lavoura como um exemplo de um patrimônio histórico e cultural que também se esvai aos cegos olhos da negligência de nossas autoriadades. Não que isso aconteça sem que o seu editor-chefe, Robinson Belém de Azeredo, não tenha feito esforços para conscientizar as autoridades sobre essa possibilidade. De tudo fez, mas a política iguaçuana, antes e também agora, prefere financiar o CD de uma igreja evangélica da Barra da Tijuca, como fez recentemente a Fundação Cultural e Educacional de Nova Iguaçu (Fenig), em detrimento de manter nossa memória viva. Dói em mim, tão íntimo deste jornal como se dele fosse um filho, saber que a secretaria de Cultura - a atual e as anteriores - não se move na preservação desta memória que poderia ser compartilhada nas salas de aulas de nosssos alunos.
Por diversos cantos dessa cidade há um patrimonio cultural. Mas, é mais fácil fazer um catálogo registrando a quantidade de salas de cinema que catalogar esses patrimônios e levá-los aos olhos das gerações mais jovens e futuras.
Voltando a falar do Sylvio Monteiro, como disse antes, dele me despedi uma vez em seu leito, e, ontem, me despedia novamente ao olhar para o espaço que leva o seu nome sendo carcomido ao sabor da negligência.

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