Por Claudia Maria
Vai sair no Tribuna da Região. Vale conferir
A Política através dos tempos
Para entender um pouco mais sobre como a política é pensada por nossas cabeças de Terceiro Mundo, separei alguns trechos do livro Vila dos Confins de Mário Palmério que fazia uma análise, com nomes fictícios, é claro, da política. Lá pelas tantas ele coloca a fala de um político: “Veja como tudo tem mudado: nas eleições passadas, nós nos aliamos aos democratas para vencer os liberais; nas últimas, nos unimos aos liberais para derrotar os democratas; agora, o boato é que os democratas estão se aproximando dos liberais para acabarem com a gente… nessa confusão toda, sobram apenas os mais duros, que ninguém é bobo de fazer casa com tijolo ruim”.
A fala é do candidato a deputado. Palmério não para por ai. Vale a pena conhecer mais alguns trechos dessa obra: “Para velhaco, velhaco e meio. Em conversas particulares, combina uma coisa com o secretário e outra com o deputado, garantindo apoio de ambos. Tapearia os dois — ficariam queimados com ele, brigariam, mas depois tudo passava. Política era aquilo mesmo... valha quem valha, só é respeitado quem tem poder – não é essa a lição?”, continuava personagem de nosso escritor.
Mas, bem próximo às eleições, o velhaco personagem parecia perceber que perderia as eleições mesmo com todas as suas tentativas. Então, lança mão de um plano que considerava infalível. “Vendo a situação de seu partido degringolar, põe em prática um plano mirabolante: simula um atentado — coisa comum naqueles tempos de coronéis e jagunços. Com ajuda do tio, embrenha-se na mata, obstrui a estrada derrubando uma árvore, estaciona o carro e atira várias vezes de carabina contra o painel e a lataria. Entra no automóvel alvejado, corre para a cidade vizinha, aciona a polícia, presta depoimento relatando detalhes da "tocaia" e faz com que o caso alcance proporções nacionais, envolvendo o Governo Federal, repercutindo na imprensa e, evidentemente, constrangendo os liberais — automaticamente acusados de armar o atentado”.
Tenho certeza de que essas passagens parecem familiares até ao menos atento eleitor. Pois bem. O livro de Mário Palmério foi publicado no ano de 1956. A cidade citada por ele era a fictícia Vila dos Confins. Como podemos ver, pelo jeito, as coisas não mudaram. Se aliar a um partido e mudar logo depois, enganar até os aliados e ainda simular um atentado para parecer vítima é coisa muito recente em nossa memória quando falamos da política em nosso país. Se desde 1956, depois de tanta coisa, inclusive um golpe militar, não mudamos é porque alguma coisa está errada.
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