Carta de petista

"Caríssimos companheiros vereadores Carlos Ferreira e Marli de Freitas,

Gostaria de agradecê-los e parabenizá-los pela importante contribuição que ambos vêm proporcionando ao poder legislativo e ao processo democrático em nossa cidade. Sem dúvida, me faz crer que é possível termos representações parlamentares comprometidas com as demandas populares e com a construção partidária, isso é de suma importância para o nosso país. Tendo em vista que os parlamentares, modo geral, estão cada vez mais voltados para suas questões pessoais e seus projetos de continuidade no poder, sem ter o menor compromisso com a população que o elegeu e que o mantém, é muito bom poder receber nessas linhas informações críticas que visem contribuir com a informação e o esclarecimento de todos nós. Entretanto, gostaria de provocar uma reflexão, acerca do documento que nos fora enviado, que acredito ser pertinente neste momento de análise de conjuntura.

Foi-se dito, e muito bem por sinal, que o governo do prefeito Lindberg Farias "(...) Nos Conselhos Municipais, principal forma de atuação dos movimentos populares, desde a década de 1990, a relação nunca se pautou pela democracia. Questões importantes não foram discutidas nos conselhos, relegando a estes apenas funções burocráticas e de pouca relevância". E mais adiante o documento nos diz o seguinte: "(...) Os governos do PT se destacaram na interação com os movimentos, criando formas de participação como o Orçamento Participativo. O governo Lindberg nunca promoveu nenhuma discussão sobre o orçamento com a população, com os movimentos populares ou com os conselhos municipais. Nunca discutiu prioridades de governo, para elaboração de um planejamento de ações que levasse em conta os anseios da população e do movimento".

Mediante a essas afirmações, caríssimos companheiros, eu me indago constantemente: por que o governo do prefeito Lindberg Faria, do PT, em nada se assemelha ao tão propagado "jeito petista de governar"? O que leva o prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores a adotar práticas governamentais tão distintas àquelas exercidas pelo seu partido? Que decisões o partido vêm tomando para contrapor tais práticas?

São questões que me surgem e não ficam sem respostas. Não sou ingênuo, muito menos purista! É de facílima percepção entender a atual conjuntura analisando o "momento histórico" no qual se deu a pré-candidatura de Lindberg em seu primeiro mandato em nosso (meu) município. É fácil perceber também o quanto fragilizadas estão a política e a participação popular do Partido dos Trabalhadores nesta cidade. Ora, será que é tão absurdo assim constatar que "(...) a principal marca do governo foram ações de caráter eventual, que produziram resultados pontuais com claro objetivo midiático"? Principalmente quando sabemos que a aposta no então candidato Lindberg Farias, em detrimento a de um quadro da política municipal, se deu, dentre outros motivos aparentemente complexos, em função do tal apelo "midiático nacional" . Nesse sentido, companheiros e companheiras, eu penso que, não invalidando a importância deste documento e da luta de nossos vereadores, estamos "chovendo no molhado"; vivenciamos o que o poeta chamaria de "crônica de uma morte anunciada". É claro que nossa voz não deve e não vai se calar diante de tantos absurdos! No entanto, acrescento aqui, a necessidade de voltarmos nossas críticas e indignações contundentes à principal (ou uma das principais) fonte de nosso (ou seria somente meu?) descontentamento: o Partido dos Trabalhadores, o PT! É chegada a hora de o partido assumir sua responsabilidade e culpabilidade frente aos movimentos, não somente a seus filiados e militantes mas à sociedade como um todo.

Faz-se necessário, ao PT, despir-se desta fantasia vimitimizadora que não lhe cai bem, e ter claro para si mesmo o quão é protagonista desta tragicomédia de bufões conhecida como: Governo Lindberg Farias.

Eu sou Marcos Serra, ator e professor de artes cênicas. Sou militante da cultura neste município, fui presidente do conselho municipal de cultura durante 2 anos e me filiei ao Partido dos Trabalhadores em março de 1988".