18.7.06

Desabafo

Caros amigos que acompanham este Blog, confesso a vocês que ando um tanto desanimado. Pessoas que no passado gozavam do meu respeito, hoje, são as razões das náuseas que sinto. Aquela moralidade no grito do movimento popular transformou-se na desfaçatez burocrática de quem só ia às ruas para conquistar o poder e dele se locupletar.
A cor vermelha das bandeiras de luta que em tempos atrás eram sustentadas pelas mãos dos justos, corou-se ainda mais na vermelhidão da vergonha frente o espelho. Diria o poeta Eud Pestana, os “espelhos que se alimentam de cumplicidade” e meus amigos do passado também.
Meu grupo seleto de amigos cada vez se reduz mais. Sentar-se à mesa para uma simples conversa passou a ser uma espinha atravessada na garganta. Incômodas, essas conversas já não me são mais peculiar. São torturas vivas de um passado em minha frente, agora na fala e roteiro de um mesmo personagem adverso, mas na pele de um novo ator.
Meus olhos testemunham, com o passar dos dias, a fragilidade do ser humano diante da oportunidade de se dar bem, entregando-se ao despudor e à ausência de dignidade. A sedução da corrupção tem sido mais forte que a coerência da resistência. E assim se vão alguns amigos meus, que agora vivem o papel de “bobos da corte” de um reinado de hipocrisia.
Escrever, a cada dia tem sido fel dos mais amargos. Fardo pesado num dorso sacrificado pelas administrações do passado e do presente. Pior! Um sentimento que me dói como um vencido em cada açoite de um Diário Oficial. É a impotência tragando minha alma como a ferrugem que destrói o aço de maior teor carbono.
Penso em deixar de escrever o Blog e silenciar-me de tudo. Mas não posso. Não tenho o espírito preparado para um ato de covardia tamanho que seria. A omissão da consciência seria um castigo redobrado em minha própria história. Portanto, caros leitores, só posso deixar para vocês este texto de desabafo e a certeza de que continuarei na trincheira, talvez como um dos poucos soldados vivos a combater a força bruta da ganância. Fica, então, meu desabafo.

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